Vícios
Quando falamos em vícios, o mais comum é pensar em drogas, álcool e cigarro - essa trindade do mal vendida em pequenos pacotes maravilhosos com promessas de alegria e bem estar. Por pouco tempo, pouquíssimo tempo. Logo a realidade se faz presente e ela não é nada agradável, mas eu gostaria de falar de outros vícios, os vícios sutis, aqueles que praticamos cotidianamente e nem nos damos conta do quão grave são. Esses vícios são a gula, a fofoca, a intriga, a curiosidade, o apresso pelo trágico.
Renato Russo traduziu acertadamente e atemporal o sentimento de felicidade pela tragédia que o Homem atual possui, “é sangue mesmo, não é Merthiolate, todos querem ver e comentar a novidade, que emocionante um acidente de verdade” - e ele escreveu esses versos na década de 1980.
Para eu me livrar dos meus vícios é árduo e sofrido, confesso. Tenho vários vícios que eu consegui identificar: o vício do pão (sim, eu preciso comer pão, a falta dele me faz mal); o vício da solidão; o vício da maledicência (só Deus sabe o quanto eu esbravejo quando estou sozinho); e alguns outros.
Há aqueles que possuem o vício da mentira, do sexo, da fofoca, da intriga, da briga, da arrogância, etc. Eu poderia citar uma lista imensa de vícios que todos nós possuímos.
Como os terapeutas nos ensinam: “precisamos assumir que possuímos vícios”, é o primeiro passo para o controle e a futura cura dos mesmos.
Religião, terapia, amizades, trabalho, leitura, filmes, e outros, ajudam bastante, mas não resolvem. O que eu aprendi nas minhas quase cinco décadas de existência é que todos, sem exceção, falam a mesma coisa: “precisamos nos encontrar, nos aceitar”, a partir daí, a solução fica mais leve e próxima. Outro fato que posso dar testemunho.
Porém, dei essa volta para chegar no ponto central de meu pensamento, que a meu ver, é o pior dos vícios, o vício do suicídio.
Quando se fracassa a primeira no suicídio (se o suicídio tivesse sucesso, a pessoa estaria morta), há um êxtase inexplicável que assombra o mental de quem passou por isso. Trata-se de uma sensação que a droga mais pesada não é capaz de proporcionar - é o quase morte e a mistura de vitória com a decepção da derrota. Vitória porque se continua vivo, logo a Vida prevaleceu sobre a Morte. Derrota, no sentido de que o objetivo não foi alcançado. Esse é o ponto. Apenas quem passa por isso sabe o prazer que dá estar quase morto. É algo inenarrável. Simplesmente não há adjetivos para descrever aqueles centésimos de segundos que separam a Vida da Morte. Por um instante a pessoa sente-se a mais poderosa do universo, e não tem nada de semelhante com a situação que vendem nas religiões espiritualistas ou no cinema. Não existe um túnel, nem alguém que lhe espera no final. Há apenas o nada absoluto. É você e o Nada, literalmente.
O triste é que escrevendo estas linhas desperta a vontade de novamente sentir esse êxtase, essa sensação única, porém, após a cura do vício, sabe-se que essa sensação é terrível, trevosa no mais puro sentido da palavra. São trevas tão densas nos envolvendo naquele instante crucial que nada mais é perceptível. É como se paredes acústicas nos envolvessem por completo. Aquele centésimo de segundo torna-se uma eternidade. Eu repito, não há antepassados, não há santos, não há Cristo, não há Deus e não há Nada - e é nesse ponto, nessa milésima parte daquele centésimo de segundo que entendemos o que é Vida.
A partir da aqui, caro leitor, se você pensou, mesmo que sutilmente, em tentar o suicídio, permita-me decepcioná-lo consideravelmente. Não há nada de magnifico no suicídio, nem na tentativa, muito menos no sucesso dele. Pelo contrário, aquele milésimo instante da centésima parte do segundo nos mostra claramente a Vida. É como se o tempo parasse o você observasse sua imagem refletida nos momentos seguintes. Essa imagem é moldada no resultado do ato, se você obteve sucesso,m sinto-lhe dizer, mas um breu absoluto irá tomar-lhe a consciência impregnando-lhe de solidão cada molécula de seu ser. Se você saiu derrotado e aprendeu a lição divina que existe na milésima parte do centésimo do segundo, então, você sai curado e torna-se novo Homem. É isso que eu interpreto como ressurreição - ganhamos nova vida no mesmo corpo. É incrível. É indescritível.
Hoje eu afirmo, jamais tentarei passar por isso novamente.
O que nos leva a tal ato, o que nos motiva a tentar tal absurdo, é o de menos. O importante é a Vida que está nos ensinando a cada milésimo de centésimo de segundo e não conseguimos senti-la. Após o breu absoluto aprendemos que as religiões são fugas para a pequenez intelectual do ser humano. Lendo sobre os mais antigos, aprendemos que os mais velhos possuíam mais conhecimento e não existia escolas formais para separar as classes de seres, não havia pedaços de papel dizendo que podia isso ou aquilo. O que separava os Homens era a Sabedoria - conhecimento que nenhuma religião, ciência, credo, dogma, etc é capaz de definir, quiçá, transmitir. Todos os sábios, santos, mensageiros, profetas, deuses, filósofos, etc eram pessoas solitárias. Preferiam a solidão do Tempo do que a perda do convívio incauto.
Esse ensinamento está diante de nossos olhos o tempo todo, seja em livros, seja em filmes, seja em escolas, seja em religiões, seja onde for, ele está disponível para todos, independente do pedaço de papel que a pessoa possui - isso é Deus.
As ferramentas para adquirir esse Conhecimento também estão á disposição de quem tiver disciplina e dedicação para se submeter ao extraordinário e ser considerado louco perante a sociedade - há os que aprendem pelo Bem e há os que aprendem no fim da vida, literalmente, como é o meu caso.
Quando uma pessoa chega para mim e fala que fez trabalho para estragar minha vida, que deseja me prejudicar de qualquer maneira, eu pergunto o seguinte: “esse trabalho que você fez, essas supostas entidades que você mandou me prejudicar, são corajosas o suficiente para enfrentar o breu absoluto como eu enfrentei? Se sim, convido a todos os seres que você convocou para enfrente comigo o breu absoluto, começando por você, já que você é o agente provocado de tal agressão. Caso esses seres não tenham coragem de enfrentar o milésimo do centésimo instante de segundo, convido você a traçar essa jornada comigo” - a reação é a mesma para todas as pessoas: elas saem resmungando e me amaldiçoando ainda mais. Coitadas, se soubessem o que é Morte e Vida, jamais desejariam isso para quem quer que seja.
O mais agravante é que o suicida vai por conta própria, por vontade própria, diferente daquelas pessoas que sofrem influências psicológicas para cometer tal ato - essas pobres pessoas não são suicidas, são vítimas de assassinato. Ora quem induz a pessoa à depressão comete assassinato, quem pratica terror psicológico também é assassino. Para tirar a vida de uma pessoa não há arma mais eficientes que a Palavra. O mesmo se dá ao contrário, para salvar uma pessoa não há nada mais eficiente do que a Palavra. Isso tem que ficar muito claro na mente de todos.
E, se você chegou até aqui do texto, o meu “muito obrigado!”. Espero que tenha lhe esclarecido que o suicídio é um vício e, como todo vício, precisa ser tratado. A CVV (telefone 188) é o lugar mais adequado para tratar o suicido.
Aprenda:
- Não há glamour no suicídio;
- Não há glória em tirar a Vida;
- Não há vergonha em aceitar ajuda;
- Não há tristeza em tratar a causa dos problemas;
- Não há solidão quando se procura ajuda;
- Não há futuro solitário após a cura;
- Não há Morte (essa é a maior mentira da humanidade);
- Não há vitória no término do corpo físico;
- Não há ressurreição sem trabalho árduo;
- Não há crença maior do que o “Ame-se”;
- Não há descrédito em recomeçar (eu estou batendo à porta dos “cinquentão!” e estou recomeçando do menos que zero - cheio de dívidas, risos)
- Não há vergonha em pedir;
- Não há demérito em oferecer;
- Não há descrença em não acreditar;
- Não há derrota na Vida!
Pense nisso! Fique com Deus, hoje e sempre!