Lilith ou Pandora?
Todos sabem que Eva, como sendo e primeira mulher, surgiu junto com a Bíblia católica.
Os judeus falam que Lilith foi a primeira mulher. Porém como ela não aceitou fica debaixo de Adão, foi expulsa do Édem e, assim, Deus fez uma segunda mulher para Adão. Desta vez de sua costela. Desse modo, Eva seria submissa e teria uma dívida eterna com Adão, visto que ele perdeu uma parte de seu corpo para que a mulher fosse criada.
Discurso perfeito para uma doutrina ditatorial e escravagista. Não entrarei no politicamente correte “machista”, pois não cabe essa classificação infantil. Quem lê a Bíblia sabe perfeitamente que as mulheres tiveram um papel fundamental na construção da sociedade judaica e, posteriormente, na sociedade cristã. Quem ainda duvida sugiro que leia sobre Débora, tanto no Torá quanto na Bíblia.
E posso citar diversas outras mulheres, como a mãe de Cristo, Maria, ou mesmo a Madalena (discriminadamente classificada como prostituta pela igreja romana). Madalena nunca foi prostituta.
A igreja romana precisava de dogmas, rituais e, principalmente inimigos. Qual doutrina, religiosa ou não, sobrevive sem inimigos? Basta ver como a política brasileira ilude os jovens criando verdadeiros zumbis mentais – com limitações nítidas de leitura e interpretação de textos e, pior, com toda a preguiça intelectual que possuem tornam-se presas fáceis nas mãos de quem lê e de quem não é preguiçoso. Nossos jovens atuais representam bem a sociedade do início dos tempos da igreja romana. Quem vivia em Roma era festeira e promíscuo. A maioria não se interessava pela Política e aceita qualquer esmola vinda do Império. O importante naquela época eram os banhos públicos (cheios de orgias) e os eventos nos coliseus. Esse era o cenário perfeito para a implantação de uma doutrina ditatorial que submeteu o povo à uma escravidão mental sentida até hoje.
Lilith foi eleita pela igreja romana como a inimiga da igreja e dos Homens, visto que ela era apenas mencionada na doutrina falada dos judeus. Pouco se sabia sobre ela no começo do cristianismo e apenas os iniciados na Kabalah e no Talmud (ambos judaicos) tinham acesso à verdadeira identidade de Lilith – e veja que nem era assim que se escrevia o nome dela. Estou usando esta forma para fins de entendimento.
Como o império romano tinha por princípio deixar que o povo conquistado continuasse com seus cultos e crenças, a igreja do império aproveitou dessa premissa e criou seus inimigos. No começou, nos primeiros anos o inimigo eram os povos que cultuavam outros deuses. Essa coisa de “diabo” surgiu apenas nos anos 1100 depois de Cristo. A reencarnação e a comunicação com os mortos eram aceitas pela igreja romana até o concílio de Nicéia.
Lilith foi declarada inimiga por ser considerada promíscua visto que não ficava debaixo dos homens. Mas surge uma pergunta: “como as pessoas sabiam disse se esse conhecimento era passado apenas para os iniciados?” – mais uma vez a igreja manipulou a Verdade.
Outra verdade que a igreja manipulou é a história de Madalena (este é assunto para outro artigo). A igreja declarou que Lilith era uma deusa do mal, a deusa da Babilônia (mais pela fama do que pelos rituais) – as crenças pagãs creem em deuses mais antigos que a doutrina judaica. São entidades ancestrais que remontam ao início, ao Caos. Logo, falar que Lilith era uma deusa é, no mínimo, muita falta de caráter.
A partir de agora a igreja romana começava a desenhar sua crença de folclores ditos como verdadeiros. Ora, no Brasil, em tempos antigos, as pessoas acreditam que o boto cor-de-rosa saía dos rios para seduzir as mulheres. Crenças sempre existirão. O problema é quando as autoridades se apoderam dessas crenças para imputar na mente dos incautos verdades que só existem em uma elite intelectual limitada à meia dúzia de reis.
Por outro lado, lá na Grécia, existia o mito de Pandora muito antes de Lilith ser conhecida.
Luc Ferri, em seu livro A Sabedoria dos Mitos Gregos – Aprender a viver II, tradução de Jorge Barros, 2008, diz:
“Atena ensina a arte de tecer, Afrodite, oferece a beleza absoluta e o dom de suscitar o desejo “que faz sofrer” e provoca “a inquietação que deixa prostrado o homem”. Ou seja, Pandora, pois é dela que se trata, é a sedução em forma de mulher.”
“Pandora, tem toda a aparência externa de uma promessa de felicidade, mas no fundo, é a rainha das dissolutas, podendo ser tudo, menos um presente!
A moça deslumbrante, pura fatalidade, tem um nome – Pandora – ao mesmo tempo esclarecedor e muito enganador. Significa em grego: aquela que tem todos os dons – porque, diz Hesíodo, “todos que tinham sua casa no Olimpo lhe concederam um dom –, a menos que signifique, como acham alguns, “aquela que foi dada aos homens por todos os deuses”.
Percebe a semelhança com a história de Lilith? Muitos dizem que Lilith surgiu na Mesopotâmia, muito antes do judaísmo. E surgiu mesmo, mas lá, ela tinha outro nome. Alguns escritos sumérios datados em 3000 AC mencionam uma Lilitu. Tempos depois, pela mesma igreja romana Lilitu foi adequada como Lilith. A igreja romana precisava de inimigos.
Vários autores mencionam a cultura suméria como cultuadora de deuses demônios, mas a palavra demônio foi introduzida na sociedade pela mesma igreja romana. O que existiam eram deuses. Os ancestrais não faziam ideia do que eram demônios, visto que não existia um Deus Superior para se opor a eles.
Outro desvio da igreja romana foi ter imputado, e com sucesso, a imagem da deusa Hécate como sendo Lilith. Ela não é Lilith. Ela é Hécate. Lilith, como a igreja popularizou, só existe na mente dos líderes religiosos. Ora, se Lilith é a Hécate pelo simples fato de ser a “mulher escarlate” então o papa quando veste seu manto escarlate é uma espécie de Lilith masculino, um “Lilitho”? Percebem a incoerência da igreja romana?
Mais para frente, em seu livro, Luc continua, “Mesmo assim, é claro que Epimeteu cai na esparrela e se apaixona como um louco por Pandora. Não apenas dela nascerão outras mulheres que, como ela, irão arruinar, em todos os sentidos da palavra, a vida dos homens, mas além disso, ela ergue uma estranha “jarra”(que na mitologia grega se chama “caixa de Pandora”) dentro da qual Zeus se dera o trabalho de colocar todos os males, todas as desgraças e todos os sofrimentos que devem se abater sobre a humanidade”.
Percebe aqui a semelhança entre a Lilith pregada pela igreja romana e a Pandora dos mitos gregos? Veja como a igreja se apropria de outras culturas para escravizar intelectualmente as pessoas. Lembre-se que a Bíblia deveria ser lida apenas em Latim e pelo sacerdote. O povo deveria ouvir e obedecer cegamente ao clero, pois era apenas o clero que mantinha contato com o Divino.
Desse modo, as filhas de Pandora foram chamadas de bruxas, ou filhas de Lilith com Lúcifer – o primeiro anjo criado e detentor de todo o conhecimento dos Céus, depois foi expulso e jogado na Terra para atormentar os Homens. Ops, parece que estou citando a tradição orientação e seus dragões, mas é outro assunto. O foco é Lilith e Pandora.
Por fim, a Lilith católica nada mais é do que a reescrita do mito de Pandora com algumas pitadas dos cultos e rituais sumérios a fim de subjugar as mulheres e impedir seu lugar de destaque na História. Lembra de Débora que eu citei mais acima? Leia sobre Débora tanto no Torá quanto a na Bíblia romana. Até os meados do século XIX as bruxas eram tidas como o verdadeiro inimigo da igreja. O diabo, apesar de ter sido conjurado pela mesma igreja lá nos anos 1100, só ganhou destaque, quando os iniciados em magia, homens em sua maioria, foram popularizados na Europa. Até essa época o diabo era apenas o demônio que seduzia as mulheres para desviar os homens do “bom caminho” católico. Mais uma vez a igreja romana viu seu império ser ameaçado. Desde 1840 não havia mais como a igreja controlar os místicos. Tentativas públicas em desacreditar o Espiritismo codificado por Kardec, ou a suposta loucura de Crowley, foram fracassadas. Essas doutrinas apenas ganharam mais destaques.
Perceba que uma doutrina séria, criada com princípios, não muda, não vacila, não sofre com as mentiras contadas. O judaísmo é o mesmo. O budismo é o mesmo. A tradição suméria, que ainda é cultuada, é a mesma. O Islã é o mesmo. O Hinduísmo é o mesmo. A única doutrina que sofre mudanças e reescritas de seu livro sagrado é o catolicismo romano. De tempos em tempos há concílios para determinas quais livros são sagrados ou não. E a única doutrina que vê a mulher como opositora é o catolicismo romano. É a única crença que prega ser o diabo influenciador da alma feminina e que a mulher se torna suja todo mês. Não há outra crença que pregue essas coisas absurdas.
Pensa comigo: Deus criou o Homem à sua imagem e semelhança. Logo, como pode esse mesmo Deus transformar o receptáculo da Sua imagem e semelhança em algo ruim, sujo? Ora, não é a mulher o veículo pelo qual o Homem nasce neste mundo, sendo uma criação de Deus? Se esse Deus declarou que a mulher, o receptáculo sagrado da Sua Imagem e semelhança é suscetível às investidos do tal diabo, então, esse Deus é falho. Não há lógica em criar o Homem à Sua imagem e semelhança através de algo imperfeito e imundo. Questione qualquer sacerdote, de qualquer religião ou crença, como ele se comporta e executa seus rituais para o seu deus. Certamente ele falará que as oferendas, as indumentárias e rituais são feitos com o que há de melhor. Ele não oferecerá algo sujo para seu deus. Ele não permitirá que alguém facilmente influenciável seja um sacerdote para seu deus. A própria igreja romana faz isso, veja como as construções são cheias de luxo e as indumentárias dos sacerdotes (padres) são riquíssimas em detalhes. Perceba como a cultura dos padres é impecável. Eles estudam e se preparam muito para executar o ritual da missa.
Lilith, para a igreja romana, é Pandora adaptada. As filhas de Pandora com Epimeteu (o opositor de Zeus) são as “bruxas”, pois trazem o conhecimento de sua mãe. Por outro lado, Lilith tem diversas interpretações nas mais diferentes crenças. Esta é apenas mais uma leitura sobre a deusa mulher.